top of page

Zombie Leadership: Ideias Mortas Que Continuam a Andar Entre Nós

  • Foto do escritor: Andrea Fontes
    Andrea Fontes
  • 31 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 3 de jun.

ree

Nos últimos anos, temos assistido à proliferação de livros, formações e discursos sobre liderança que prometem desvendar os "segredos dos grandes líderes". No entanto, como argumentam Haslam et al. (2024), muitas dessas ideias são, na verdade, conceitos ultrapassados e desacreditados pela ciência, mas que continuam a dominar o imaginário coletivo e as práticas organizacionais. A estas ideias, os autores chamam zombie leadership.


O Que É o Zombie Leadership?

Inspirando-se no conceito de zombie economics de John Quiggin (2012), zombie leadership refere-se a um conjunto de crenças sobre liderança que, apesar de refutadas por décadas de investigação, persistem porque servem os interesses das elites, proporcionam conforto ideológico e legitimam desigualdades de poder. Estas ideias são promovidas por discursos mediáticos, consultores, coaches, livros de autoajuda e até por parte da literatura académica.


Os Oito Pilares da Liderança Zombie


Haslam e colegas identificam oito axiomas que sustentam este fenómeno:

  1. A liderança é sobre os líderes: Ignora-se a influência dos seguidores e dos contextos, focando-se exclusivamente nas figuras com cargos formais.


  2. Grandes líderes têm traços específicos: Assume-se que há características universais que definem bons líderes, ignorando a perceção social e o papel do grupo.


  3. Todos os grandes líderes fazem as mesmas coisas: Promove-se a ideia de um conjunto de comportamentos eficazes em qualquer contexto, desvalorizando a variabilidade situacional.


  4. Todos reconhecem um bom líder: Supõe-se um consenso universal sobre quem é um bom líder, quando na verdade as avaliações são profundamente contextuais e influenciadas por identidade e valores.


  5. Toda a liderança é igual: Trata-se a liderança como uma essência abstrata e universal, quando esta é sempre situada, histórica e culturalmente.


  6. Liderar é uma competência de pessoas especiais: Reforça-se o elitismo, desvalorizando formas de liderança emergente, informal e distribuída.


  7. A liderança é sempre positiva: Ignora-se o lado tóxico ou destrutivo da liderança, e os interesses contraditórios que muitas vezes ela representa.


  8. Sem líderes, os grupos não funcionam: Desconsidera-se a evidência de que os grupos podem auto-organizar-se e que a liderança, quando mal exercida, pode ser prejudicial.


Como "enterrar" a Liderança Zombie:

Apesar da sua persistência, é possível confrontar a liderança zombie de forma estruturada e informada. Eis quatro caminhos fundamentais para a transformação:


1. Reconhecer o problema com coragem intelectual

Aceitar que muitos discursos e práticas de liderança amplamente aceites estão alicerçados em pressupostos errados é o primeiro passo. Tal como os estereótipos sociais, estas ideias não são apenas incorretas — são ativamente prejudiciais porque moldam estruturas, expectativas e comportamentos. Ignorá-las ou suavizá-las apenas contribui para a sua normalização.


2. Substituir a lógica individualista por uma perspetiva relacional e contextual

A liderança deve ser entendida como um processo social, construído em interação com os seguidores e modelado pelas dinâmicas de grupo, cultura e história. A evidência é clara: sem followership, não há liderança. A eficácia depende menos de traços pessoais e mais da capacidade de alinhar identidades, valores e objetivos partilhados.


3. Valorizar a liderança distribuída e invisível

Investigação recente (Fransen et al., 2023) mostra que a liderança mais eficaz muitas vezes emerge de membros informais das equipas e não das figuras hierárquicas de topo. Esta liderança “não reconhecida” é essencial para a motivação, coesão e aprendizagem nos grupos. As organizações devem investir em estruturas que reconheçam, legitimem e cultivem a liderança em todos os níveis.


4. Reformar a formação e o discurso institucional sobre liderança

É necessário rever os programas de desenvolvimento de liderança que continuam a promover modelos normativos e idealizados (Alvesson & Spicer, 2014). A liderança não é um fim em si, nem é neutra. Deve ser compreendida criticamente, com atenção aos seus impactos éticos, sociais e políticos. A formação deve incluir também os perigos da liderança — como o narcisismo, o autoritarismo e a desigualdade — e promover modelos que integrem vulnerabilidade, escuta ativa, e ação coletiva.

___________________________


Zombie Leadership: Dead Ideas That Still Walk Among Us

In recent years, we have witnessed a proliferation of books, training programs, and leadership discourses promising to unveil the "secrets of great leaders." However, as argued by Haslam et al. (2024), many of these ideas are, in fact, outdated concepts that have been discredited by scientific research but continue to dominate public imagination and organizational practices. The authors refer to these ideas as zombie leadership.

What Is Zombie Leadership?

Inspired by John Quiggin’s (2012) concept of zombie economics, zombie leadership refers to a set of leadership beliefs that, despite being refuted by decades of research, persist because they serve elite interests, provide ideological comfort, and legitimize power imbalances. These ideas are promoted through media narratives, consultants, coaches, self-help literature, and even parts of academic literature.


The Eight Pillars of Zombie Leadership

Haslam and colleagues (2024) identify eight axioms that sustain this phenomenon:

  • Leadership is about the leaders: The influence of followers and context is ignored, with full attention placed on those in formal leadership roles.

  • Great leaders have specific traits: It is assumed that universal characteristics define good leaders, neglecting the importance of social perception and group dynamics.

  • All great leaders do the same things: The idea of a universal list of effective leadership behaviors is promoted, disregarding situational variability.

  • We all recognize a good leader: A universal consensus on what constitutes a good leader is assumed, when in reality such evaluations are deeply contextual and shaped by identity and values.

  • All leadership is the same: Leadership is treated as an abstract and universal essence, even though it is always situated in history and culture.

  • Leadership is a skill of special people: Leadership is framed as elitist, undervaluing emergent, informal, and distributed forms of leadership.

  • Leadership is always positive: The toxic or destructive potential of leadership is ignored, along with its capacity to reinforce conflicting interests.

  • Groups can't function without leaders: The evidence that groups can self-organize and that poorly exercised leadership can be harmful is disregarded.

How to Bury Zombie Leadership

Despite its persistence, zombie leadership can be challenged through structured and informed strategies. Here are four fundamental paths toward transformation:

1. Acknowledge the problem with intellectual courage

Recognizing that many widely accepted leadership discourses and practices are based on flawed assumptions is the first step. Like social stereotypes, these ideas are not just inaccurate—they are actively harmful because they shape structures, expectations, and behaviors. Ignoring or downplaying them only contributes to their normalization.

2. Replace the individualistic logic with a relational and contextual perspective

Leadership should be understood as a social process, built in interaction with followers and shaped by group dynamics, culture, and history. The evidence is clear: without followership, there is no leadership. Effectiveness depends less on personal traits and more on the ability to align identities, values, and shared goals.

3. Value distributed and invisible leadership

Recent research (Fransen et al., 2023) shows that the most effective leadership often emerges from informal team members rather than those in top hierarchical positions. This "unrecognized" leadership is essential to motivation, cohesion, and group learning. Organizations should invest in structures that acknowledge, legitimize, and cultivate leadership at all levels.

4. Reform leadership training and institutional discourse

Leadership development programs that continue to promote normative and idealized models must be revised (Alvesson & Spicer, 2014). Leadership is neither neutral nor an end in itself. It must be critically examined, with attention to its ethical, social, and political implications. Training should also address the risks of leadership—such as narcissism, authoritarianism, and inequality—and promote models that include vulnerability, active listening, and collective action.


Referências


Alvesson, M., & Spicer, A. (2014). Critical perspectives on leadership. The Oxford handbook of leadership and organizations, 40-56.


Fransen, K., Vanbeselaere, N., De Cuyper, B., Vande Broek, G., & Boen, F. (2023). Informal leadership and team functioning in sports. Psychology of Sport and Exercise, 65, 102274.


Haslam, S. A., Alvesson, M., & Reicher, S. D. (2024). Zombie leadership: Dead ideas that still walk among us. The Leadership Quarterly, 35(1), 101770.


Quiggin, J. (2012). Zombie economics: How dead ideas still walk among us. Princeton University Press.

 

 
 
 

Comentários


bottom of page